Apesar da
visibilidade midiática e da evolução do conceito: desenvolvimento sustentável,
a realidade cotidiana demonstra, nos faz ver, perceber, sentir, registrar, que
ações, de fato, sustentáveis, são difíceis de comprovar diante realidades
diárias sobre a natureza, humana e ambiental, com outras faces, degradadas,
violentadas, exploradas. A sustentabilidade existe sim, com muita ênfase, nos
discursos, peças publicitárias, propagandas, falas de governo, empresas e ONGs,
que souberam, estão sabendo, de forma competente e criativa, se apoderar do termo
para surfar na onda do marketing verde vazio. Se dizem que fazem e não estão
fazendo, concordo com o colega Andre Trigueiro, “temos obrigação diante do
nosso papel de jornalistas, mostrar porque”. É objetivo desse artigo despertar
a atenção sobre a forma como a mídia propaga, de forma massiva, o mais “famoso” dos novos paradigmas: a sustentabilidade. Nossa pesquisa é
reforçada sobre imagens flagradas por jornalistas, no cotidiano brasileiro,
mostrando quão distante anda o discurso, generalizado, da prática, onde o caos
na saúde, educação, transportes, moradia atinge forte, a quem mais o governo
diz estar dando atenção: classes pobres e médias.
Até onde,
como e quando empresas/governos/educadores/cidadãos, estão realmente
preocupadas com a preservação da Vida, na Terra? De que maneira surge, ou não,
uma consciência interna, pessoal/profissional, de que cada ato pode favorecer
ou prejudicar a preservação de recursos naturais vitais, como a água, alimento
e ar? Em que nível de informação/formação as pessoas estão para saber que um
ato aqui e ali, uma ponta de cigarro a mais, ou a menos, no ambiente, faz
diferença sim no processo de condução para preservar a Vida? Qual pode ser o
grau de satisfação, ou insatisfação, de cada pessoa/empresa, ao praticar um ato
ambiental correto ou degradador? Até quando irá prevalecer a prática do “se
todo mundo joga, eu também jogo, sujo, não faz diferença”. E, porque seria
necessário reverter essa lógica, perversa? O caos nas emergências dos
hospitais, o número diário de mortos por doenças preveníveis; o número de
famílias desabrigadas dos inchaços urbanos desordenados, e casas deslizadas em
terras frágeis, a cada nova chuva; o número de faculdades surgidas a cada
semestre x o número de desempregados/recém-formados, que indicadores desses ai
poderia mostrar o Brasil que se diz “sustentável”.
Monocultura,
Commodities e fome interna
Matriz de produção
predatória é paradoxal ao discurso do uso de matriz sustentável
Apesar
do apelo ideológico, e do reforço diário do discurso da sustentabilidade, o
conceito anda longe de práticas, ações, gestões, comportamentos, que levem
sustentabilidade, harmonia, equilíbrio, entre o que, como, e quanto, se produz,
na cadeia das atividades econômicas. Nesse contexto, como
a Comunicação - Jornalismo, Publicidade, Redes Sociais, Listas de
discussões, Grupos virtuais, blogs, sites - pode contribuir com informações,
transversalizadas, contextualizadas historicosocialmente, para mostrar por que uma simples ponta de cigarro aqui, uma
garrafa pet ali, uma latinha acolá, um projeto a mais alardeando-se
sustentável, sem ser, faz sim, e
muita, diferença, na construção de uma nova mentalidade,
um novo jeito de pensar, fazer, se comportar, agir , mudar o que se mostra como necessário e urgente?
A Carta da Terra diz que “devemos somar forças para gerar uma
sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos
humanos universais, na justiça econômica e numa cultura de paz. E, que para chegar a esse propósito, é
imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns
para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras
gerações”. Nesse contexto, imperativo reforçarmos o saber como
instrumento de construção, impulsão, para qualquer modelo, paradigma, jeito de
viver, que reforce a condição humana como frágil, limitada, diante do poder da
Natureza, onde tem facetas, climáticas, por exemplo, que a própria Ciência
ainda ignora, desconhece? E, como a vida continua pautada no consumo, seja de
idéias, fazeres e experiências, necessário e urgente se faz adotar políticas,
práticas, que alimentem a cadeia de
suprimentos, onde fornecedores, distribuidores, varejistas e consumidor
final, estejam em harmonia, em sintonia, com as adaptações que o planeta, o
ambiente, rural ou urbano, estar a nos exigir, para a garantia da Vida, em suas
diversas formas;
Cotidiano mostra desespero de familiares com seus doentes, morrendo, do
lado.
Fotos tiradas pela paciente Liliana
Peixinho enquanto esteve internada por 2 dias na EMERGENCIA HRSantos -Cabula,
Salvador, às 16.57 min de 12.09. 2011, depois de via crucis por diversas
unidades públicas, antes da entrada no RS, onde saiu pior do que entrou. Veja
cópias de fichas hospitalar, SAMU, Posto Pernambués e por ultimo HRSANTOS de
onde saiu, sem alta, por total falta de tudo, inclusive espaço para entrar ou
sair gente das ambulâncias. Deu receita porque não tinha remédios de
emergência. Paciente falou que iria embora e saiu pior do que entrou. Ainda
gastou o que não tinha, com ligações telefônicas e transporte, de volta para
casa, no primeiro dia. E de novo, no dia seguinte, para o internamento.
Conteúdo
das fichas médicas mostram o descaso de
atendentes/enfermeiros/médicos/administração com o paciente/cidadão em
emergência médica. Mesmo com a identidade em mãos o nome do paciente é escrito
errado, no mesmo campo, em três dos sobrenomes.
Sistema, na prática, não acompanha discurso,
marketeado !
No Brasil temos a sensação
de que velocidade da máquina, do sistema, não acompanha as contrapartidas necessárias
a um modelo de desenvolvimento que traduza, reflita, a garantia de direitos
como condição para querer, fazer, acontecer, implantar. A impunidade favorece a
letargia e mascara realidades fantasiadas pela propaganda de quem diz que faz,
sem fazer, de fato. “ O banco mais sustentável do mundo”. Como um banco,
instituição financeira que tem o lucro fácil, rápido e especulativo, como mola
propulsora do seu negócio, pode se auto intitular, se auto promover, de auto
designar, via propaganda, altamente criativa/sedutora, que é o banco mais
sustentável do mundo?. Onde está a lógica dessa informação quando relacionada
ao novo paradigma da sustentabilidade como modo de vida harmonioso? Será se o
banco divulgaria índices de inadimplência de seus cliente, cheques sem fundos,
empréstimos a longuissimos prazos, impagáveis para a maior parte dos
brasileiros, pobres, com renda C e sem condição de tratar as doenças sociais
geradas entre devedores de banco?
Temos uma falsa
impressão sobre o que é alardeado como desenvolvimento quando estamos nas filas
de ônibus, corredores dos hospitais, cadeias superlotadas de pobres, índices
elevados de analfabetismo funcional, desperdício de alimentos x fome, num mesmo
ambiente, estradas esburacadas, escuras, inseguras, em tráfego constante, com
altos índices de mortes por atropelamentos, alcoolismo e um sistema de
impunidade inaceitável para a tão alardeada Democracia. Como
aceitar que se faça parte de uma nova classe média brasileira medida não pelo
valor da felicidade, da cidadania, da civilidade, da inclusão, do grau de
educação/informação, mas pelo nome/ano do carro, tipos de eletros que se tem em
casa? Não pelo que o filho aprendeu na faculdade para melhorar a vida social,
no papel que tenha escolhido, mas pelo quanto tempo ele terá que esperar,
depois de formado, para entrar no mercado, para ser explorado? Como aceitar um
crescimento que atropela, visivelmente, o desenvolvimento? Como entender o
discurso político governamental/empresarial que mede o tipo de vida do seu povo,
não pelo que ele mostra ter absorvido, entendido e aplicado, do conhecimento
acessado/disponibilizado, mas pelo que parece estar a fazer de conta pertencer
a um status inventado, criado em cima de valores frágeis, descartáveis,
insustentáveis, perversos, criminosos mesmo, e pior, impune e forte, como que
inabalável, mas visivelmente erosivo?
CADEIAS DE PRODUÇÃO SUJAS, INSUSTENTÁVEIS.
Caminhão
de empresa joga dejetos no mangue, polui, mata milhares de toneladas de peixes
e deixa comunidades doentes, sem
trabalho e sem assistência médica e trabalho. O Movimento AMA conferiu
in loco.
Como se orgulhar de um sistema social montado sob projetos
fictícios, inoperantes, de fachadas, planejados por uma política marketeira
agressiva e ávida por visibilidade, quando sabemos, comprovamos cotidianamente,
como jornalistas investigativos, que as informações não são exatamente o que
diz e até se mostra, editada? Porque divulgar, socializar informações cujas
estruturas não dão as contrapartidas necessárias ao que se diz que está sendo
feito?Informações que, sem a infra necessária ao funcionamento de uma
engrenagem que possa planejar o passo a passo, com alicerces profundos no
enfretamento de desafios a curto, médio e longo, prazos, comprometem a vida
cotidiana presente e futura ? Como fortalecer o altruísmo, a proatividade
social de ponta a ponta, na necessária harmonia com o viver bem, se direitos
mínimos, como o acesso a boas informações, não chegam a quem precisa, para
transformar?
O Brasil recebe criticas externas sobre a falta de infraestrutura
em setores básicos da engrenagem econômica que estar a desenhar, projetar mundo
afora. São áreas de base, como formação de m/ao de obra especializadas, saúde e
saneamento básicos, transporte público de massa que alivie uma malha viária que
só aumenta a quantidade de automóveis nas ruas, já inchadas, travadas,
estressadas, inseguras. Problemas que estão interdependentes e que por isso
precisam de visão estratégica de políticas transversalizadas de fato, não no
discurso. Problemas que estão relacionados, intricados a outros, como
Segurança, Trabalho, Moradia Educação com o real objetivo de aprendizagem como
instrumento de transformação social. Na Habitação, as cidades incham as
periferias sem estruturas míninas de saneamento, responsável por uma cadeia
complexa para a garantia da saúde como sinônimo de Vida, com conforto,
segurança e inteligência na hora de construir. No país das matrizes limpas,
naturais, estamos ainda na contramão da história mundial, quando vemos países
como Alemanha, França e Estados Unidos e outros, querendo acabar com suas
usinas nucleares e nós, brasileiros, desperdiçando e acabando com matrizes
limpas como água, vento, sol e tudo o que deles resultam para a produção de
energias alternativas, alinhadas com o mercado verde, de baixo impacto de
carbono.
Divulga-se, propaga-se em discursos um modelo de produção agrícola
que valorize e potencialize a agricultura familiar. Na prática esse discurso é
paradoxal à realidade quando vemos ações desvinculadas dos grandes créditos do
agronegócio, da monocultura de commodities que exporta tudo de bom e esquece-se
da população interna, a que produz e cuida das riquezas da nossa cultura. Nas
comunidades tradicionais, onde povos como quilombolas e indígenas cuidam da
terra, eles plantam e colhem mandioca, por exemplo, mas vendem tudo o que de
bom produzem dela e acabam comprando, sendo engolidos mesmo, pela cultura
externa do consumo de salgadinhos cheios de corantes e produtos químicos,
nocivos à saúde, quando poderiam estar comendo bolos, beijus, biscoitos,
mingaus, cuscuz e mais de cem tipos de iguarias feitas a partir dessa rica e
diversa planta/raiz chamada mandioca. São paradoxos assim que com certeza
travam o desenvolvimento, em nome de um falso e aparente crescimento.
DESCASO COM A MEGA BIODIVERSIDADE - FOCO ÁGUA
Degradação de praias,
matas, mangues, rios e mares em áreas de atuação da Petrobrás, uma das maiores
empresas anunciantes do mundo. Insustentação que a publicidade não mostra.
A falta de investimentos, associada a uma cultura de
desperdício, mau uso, corrupção, desvios e diversos outros desmandos
administrativos, mostram cenários entravados na infraestrutura.
Temos por exemplo, os cinco modais: rodoviário, aeroportuário, aquaviário,
portuário e dutoviário, com problemas onde uma ponta dessa não engrenagem pode
ser percebida com o número de acidentes provocados em todo o Brasil por falta
de manutenção e segurança nas estradas, congestionadas de carros, carretas,
caminhões, noite e dia, de norte a sul do Brasil. Problemas que afetam a mobilidade urbana e rural e toda uma
dinâmica associada para cumprir prazos de entrega de mercadorias, combate ao
desperdício, diminuição de gargalos logísticos que impedem o desenvolvimento
sustentável no Brasil. Há problemas constantes no aeroportos,
faltam linhas aéreas, contêineres, frequência de navios na navegação de
cabotagem, vagões ferroviários, terminais marítimos, hidroviários e
ferroviários, e conhecimento logístico, com gastos nos deslocamentos da
produção, desperdício e perdas por danos e avarias nos transportes,
além de dificuldades no uso da intermodalidade e da multimodalidade. A malha
ferroviária existente ainda do século passado, com locomotivas de 25 anos a 25
km/hora, sofre das falhas no processo da privatização. Grandes obras
ferroviárias estão com atrasos históricos nos cronogramas, inviabilizando
sistemas mais eficientes, seguros e de baixo custo. Com os problemas de
transportes existentes, o Brasil acaba desperdiçando bilhões de reais, são
acidentes nas estradas em pontos conhecidos, roubos de carga, ineficiências
operacionais e energéticas. Problemas de atraso de investimentos nas obras do
Metrô e VLT- Veículos Leves sobre Trilhos, intensificam um modelo perverso de
mobilidade ou falta dela, nos centros urbanos congestionados, parados,
estressados, violentos, gerados pela dificuldade de deslocamento das pessoas.
Transporte coletivo urbano de massa, com segurança e qualidade, não foi
prioridade nesse modelo econômico. O acesso o sonho de ter um carro, até antes
de uma casa, transformou o veiculo no grande vilão urbano, poluidor do ar, arma de matar gente e um dos principais
problemas para de saúde pública, através dos altos índices de
acidentes.
Transporte
de massa caótico, desumano, insustentável
O impacto desse sistema é perverso, criminoso, antigo e não
inteligente, quando não acompanha o desenvolvimento de um parque tecnológico à
disposição no mercado que enfrenta a resistência de empresários que ainda
calculam mal a relação entre custos e benefícios, com visão de longo prazo e
alcance social. Práticas que deveriam ser substituídas para a construção de uma
Economia Circular, de matrizes limpas, harmoniosas entre o lucro, bem estar,
justiça, cidadania, inclusão. Apesar de diversos
diagnósticos negativos sobre os problemas gerados pela falta de investimentos e
eficiência na aplicação de recursos para a infraestrutura, o Brasil ainda não
investe e muito menos, fiscaliza, o que é investido para o funcionamento de
cadeias produtivas. No passado, a origem foi a crise fiscal e baixo crescimento
da economia. Qual a justificativa hoje? Pra que melhor resposta a eleitores não
exigentes do que as propagandas, volumosas, que governo e empresas veiculam,
todos os dias, o dia todo, nas diversas, rápidas e caras, mídias ávidas por
contas, em suas agencias ?
Transporte
de cargas ineficiente, sucateado.
Perdas,
sucateamento, demora no escoamento da produção coloca o Brasil como o país que
mais desperdiça, no mundo. Desconexão entre o que e como trabalha para
sustentar seu povo, trabalhador.
Nesse
cenário é paradoxal informações sobre diminuição de pobreza, ascensão da
classe C ao mercado de consumo, crescimento da renda, expansão de fronteiras
econômicas através de commodities, onde o Brasil exporta matéria prima que
depois é reintroduzida no mercado interno através da massiva comercialização de
produtos chineses, onde a qualidade é duvidosa e tem matriz de produção com
histórico de exploração de mão de obra e impacto socioambiental, com gargalos logísticos
complicados. È esse modelo, que
exporta commodies como soja, aço, petróleo, e importa “lixo em forma de plástico, comidas artificiais, e milhares de
produtos, inúteis, da chamada
cultura do 1,99? Seria sustentável, em que, essa prática de economia que leva o
melhor, e barato, e compra o pior, e caro? Onde está o “sustentável”, tão propalado?
Como continuar um modelo onde a dignidade humana é jogada
fora, todos os dias, quando não há planejamento para as gerações. Moradia é só
um, dos direitos básicos. desrespeitados.
A
Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 aparecem, agora, como grandes
marcos históricos para a mudança dessa política em infraestrutura. O cenário de
mal uso, corrupção, favorecimentos, e mesmo falta de planejamento e até,
exploração de mão de obra e falta de garantia de direitos mínimos para
trabalhadores em greve, como os das obras do novo Maracanã, no Rio de Janeiro,
sinalizam que problemas históricos ainda estão longe de soluções civilizadas.
Especialistas reforçam a tese de que mesmo na ausência desses dois grandes
eventos, o Brasil precisaria investir bilhões de reais apenas para atender ao
atual ritmo de crescimento da economia e dos investimentos.
Como
sétima economia mundial e entre os 20 maiores exportadores mundiais o Brasil
parece não olhar para dentro, para o seu povo, para problemas que não combinam
com esse perfil falsamente alardeado lá fora. As dificuldades encontradas para
o desenvolvimento sustentável estão relacionadas, travadas, a modelos de crescimento
à qualquer custo, com entraves internos que se repetem, sem solução, burocracia
excessiva, tecnologias de alto carbono, educação de faz de conta, má formação
de mão de obra, carencia de técnicos, engenheiros, médicos professores e
outros profissionais capazes de criar inovação e agregar valores a
produtos e serviços na formação de cadeias produtivas harmoniosas, limpas,
sustentáveis, de fato.
Desde os anos 90, inicio do ECA, que o Brasil
intensificou as alianças com instituições internacionais para combate ao
trabalho escravo e a realidade não muda, até piora em alguns lugares do
norte/nordeste. Como são gastos os volumosos recursos? Porque as crianças
continuam trabalhando? O nó social, desestruturação familiar, continua fora da
pauta da sustentabilidade?